Existe uma ilusão muito comum no mundo dos negócios: a de que criar um produto com IA exige um mega time, meses de pesquisa e um investimento que só corporações conseguem bancar.
A verdade é quase o oposto.
Com a abordagem certa — e um pouco de disciplina estratégica — você consegue lançar um produto funcional, vendável e validado em até 90 dias, gastando menos, errando menos e mantendo o risco sob controle.
O pulo do gato aqui é simples: você não constrói o produto inteiro — você constrói somente o que reduz o risco de forma mais rápida.
E esse é o playbook que muita gente grande usa nos bastidores, mas quase ninguém ensina.
Vamos abrir isso por partes.
1. A lei dos 90 dias: por que esse prazo funciona tão bem
Noventa dias é longo o bastante para criar algo real, testável, com usuários.
Mas curto o suficiente para evitar a “tragédia clássica”:
- projetos que nunca terminam
- escopo que vira monstro
- recursos queimados em features que ninguém usa
- meses de desenvolvimento sem contato com o mercado
E, quando falamos de IA, o benefício é ainda maior:
a tecnologia permite validar hipóteses muito rápido.
Hoje você não precisa programar tudo do zero.
Pode combinar APIs, modelos prontos, automações e pequenas integrações.
Ou seja: construir valor antes de construir complexidade.
2. O playbook enxuto dos 90 dias (dividido em 3 ciclos)
A estrutura funciona assim:
📌 Ciclo 1 — Dias 1 a 30: Descobrir e validar (sem código)
Esse é o momento mais crítico, e o mais ignorado.
Aqui você não constrói nada, só reduz incerteza.
O foco é:
- Entender uma dor concreta que alguém realmente pagaria para resolver.
- Validar com conversas reais — não achismo.
- Criar a oferta antes do produto (“pitch reverso”).
- Testar uma simulação manual da IA (concierge MVP).
- Definir o fluxo ideal da solução.
Ferramentas úteis nessa etapa:
- protótipo no Figma
- landing page simples com lista de espera
- testes via WhatsApp/Discord/Notion
- IA operada manualmente nos bastidores (validação rápida)
A pergunta-chave aqui é:
“As pessoas compram o resultado mesmo que o produto ainda não exista?”
Se a resposta é sim, você continua.
Se não, você ajusta — e salva meses de prejuízo.
📌 Ciclo 2 — Dias 31 a 60: Construir o núcleo funcional (mínimo possível)
Aqui você cria apenas a parte do produto que:
- entrega o valor central
- pode ser usada imediatamente
- não depende de dezenas de features
- automatiza o que você fazia manualmente no ciclo 1
É a fase do MVP inteligente, onde você combina:
- API de IA
- automações leves
- banco de dados simples
- integrações rápidas
- interface limpa (web ou mobile)
Nada de designs mirabolantes, dashboards complexos ou “várias versões”.
Só o necessário para que o produto:
- funcione
- gere resultado ao usuário
- permita cobrar
A métrica mais importante aqui é:
usuário consegue usar sozinho e sentir valor em até 5 minutos?
Se sim, você está no caminho certo — e com 50% do risco já cortado.
📌 Ciclo 3 — Dias 61 a 90: Tração, refinamento e receita real
Agora entra o jogo “pra valer”.
O foco nos últimos 30 dias é:
- colocar usuários reais
- observar uso (fricções, abandonos, vitórias)
- ajustar o fluxo onde dói
- testar diferentes formas de cobrar (single, assinatura, créditos)
- melhorar performance do modelo e automações
- criar uma esteira mínima de aquisição
Aqui acontecem os insights de verdade, porque:
- usuários mostram o que realmente importa
- aparecem funções que você nunca imaginava
- você descobre onde cobrar mais
- o produto ganha identidade própria
A pergunta-chave desse ciclo:
“Se eu duplicar o número de usuários amanhã, o produto aguenta?”
3. As regras de ouro para cortar risco pela metade
Ao longo desses 90 dias, algumas regras não podem ser quebradas:
1. Não construa nada que você não testou primeiro manualmente.
Se não funciona no papel, não vai funcionar em código.
2. Não comece pelo layout. Comece pelo valor.
3. IA deve resolver uma parte pequena, mas vital do processo.
Ela não precisa fazer tudo — só o que muda o jogo.
4. Fale com usuários toda semana.
Quanto mais você conversa, menos você erra.
5. O produto só cresce quando você corta o excesso.
6. E o mais importante: “funcional” > “bonito”.
Funcional vende. Bonito só adia o lançamento.






